sexta-feira, 25 de março de 2011

A Carta




Ela sabia que nada mais iria acontecer. Já havia passado pela escuridão. Estava bem, seguindo em frente. Sendo feliz (feliz? Não. Ela não estava feliz, sabia que só alcançaria tal plenitude se estivesse ao seu lado, mas fingia estar aos seus amigos). Focada no trabalho, curso. Enfim.
Era seu aniversário, e pela primeira vez, passaria sem ele. Para ela comemorar aniversário não fazia muita diferença. Não se importara caso não festejasse. Mas resolveu reunir alguns amigos.
Minutos antes dos amigos chegaram à sua casa, recebera uma carta. Recebera “A” carta. Quando viu o remetente, preferia não acreditar. Era dele. Ele que te abandonara, ele que o deixou sem chão, sem rumo, sem esperança. O mesmo que a amou de formas inimagináveis. Ele que sempre lhe surpreendia e a fazia ficar sem ar a cada demonstração de amor.
Ao ler a tal carta, um misto de sentimentos e lembranças veio à tona. Seus olhos ficaram vidrados diante as letras. Começara a arder, já que não conseguia piscar, lacrimejar. Não teve reação. Por um momento pensou (pensou? Ela não conseguia pensar em mais nada, só na carta, só nele) que fosse desmaiar, já não sentia suas pernas. Escutara pessoas chegando, e por uma ação súbita e impulsiva, rasgou a carta e jogou no lixo da sua escrivaninha.
Como se nada tivesse acontecido, recebeu todos bem.
O som estava a tocar, até começar a tocar a sua música. A música deles, que eles se lembravam. E mais uma vez teve uma ação impulsiva. Começou a apertar todos os botões do som na tentativa de desligar, ou simplesmente passar a tal música. Conseguido passar, agiu como se nada tivesse acontecido.
Todos haviam ido.
Preparou-se para dormir. Ao deitar-se, seus olhos ficaram fixos à lixeira. Foi até lá, pegou a carta rasgada, montou e releu:
“Minha amada Liz.
Envio-te esta carta com todo amor que ainda cabe em mim. Ainda te amo e sempre te amarei, mas sabemos que este amor não pode mais ser vivido. Envio-te também, para lhe parabenizar. Sabes que desejo a você tudo de mais doce e real nessa vida. Espero que tenha chegado na sua data.
Tudo foi breve e definitivo. Eis está gravado, não no ar, em mim. Que por sua vez escrevo, dissipo. (C.D.A.)’
Com amor, Darcy.”

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